sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Minha Sinestesia... Futebol/Carnaval na Visão e Audição.

Lendo o site No pé da Conversa, e ouvindo troças na Rua do Bom Jesus revezarem músicas dos três times mais tradicionais da capital, li:
"Recife, Carnaval de 1975. Ao entrar no Clube Português, na noite da segunda-feira, o presidente Carlos Costa tremeu nas bases quando notou que boa parte da decoração com motivos carnavalescos estava encoberta por enormes bandeiras do Náutico, Santa Cruz e Sport, os três clubes que dividem a preferência dos pernambucanos no futebol.Pendendo dos camarotes situados no primeiro andar, as bandeiras davam um colorido especial à festa, mas ao mesmo tempo deixavam no ar um certo prenúncio de tempestade.Torcedor do Náutico, mais que depressa Carlos Costa conversou com os regentes das duas orquestras contratadas para animar o baile, proibindo a execução de qualquer música que dissesse respeito aos três times. Uma medida, à primeira vista antipática, mas que tinha lá sua razão de ser, conforme recordou certa vez, em entrevista a mim concedida, o então presidente do Português.- Parecia uma praça de guerra, e se não tivesse tomado aquela providência, haveria muitas brigas. Era uma fase em que a torcida do Sport estava impossível, empolgada com a formação do time que passou a ser chamado de Seleção do Nordeste. E as outras torcidas não queriam ficar por baixo, disse Carlos Costa.
O Sport estava entrando no décimo terceiro ano sem comemorar o título de campeão pernambucano e vendo os outros fazerem a festa: Náutico – 1963/64/65/66/67/68, Santa Cruz – 1969/70/71/72/73, e Náutico – 1974. Os torcedores adversários, na gozação, já começavam a chamá-lo de Leão XIII. No máximo, o Leão da Ilha podia se gabar, se é que havia motivo para isso, de ser heptavice, pois durante sete anos seguidos fora vice-campeão. Foi quando o arquiteto Jarbas Guimarães assumiu a presidência do clube, disposto a levá-lo a tirar o pé da lama de qualquer maneira, inclusive, indispondo-se com parte da imprensa, e fazendo valiosas contratações, tendo o centroavante Dario, o Dadá Maravilha como carro-chefe. Náutico e Santa também tinham boas equipes, o que fez a rivalidade recrudescer, mas o objetivo do Sport terminou sendo alcançado.
Foi salutar a providência de Carlos Costa, sem dúvida, uma vez que nas duas noites anteriores o tempo andara esquentando por causa da guerra das torcidas, tudo em função da velha rivalidade entre Náutico e Sport, que vem desde as primeiras regatas no rio Capibaribe, nos primórdios do futebol em Pernambuco, no início do século passado.Houve um momento no domingo em que a orquestra tocou o Come e Dorme, do Náutico, e um torcedor rubro-negro subiu ao palco para exigir a execução do Casá, Casá, que glorifica o Sport. Trata-se de dois frevos-de-rua compostos pelo imbatível Nelson Ferreira, que não torcia por nenhum dos dois, porquanto era tricolor.Até os irmãos Reginaldo, na época conselheiro do Sport, e João de Deus Ribeiro, dirigente do Náutico, que ocupavam camarotes vizinhos, cada qual com o pavilhão do respectivo clube, terminaram se estranhando. Pedro de Paula Barreto, Pedrão, então conselheiro do Náutico e naquele tempo um dos advogados da transportadora da qual Reginaldo e João de Deus eram diretores, e que estava no recinto alvirrubro, lembra um incidente surgido a partir do momento em que alguém rasgou a bandeira rubro-negra:- O pessoal de lá veio tomar satisfação com a turma de cá e começou um bafafá, com muito empurrão, que quase termina em cacete.Foi mais um, entre inúmeros entreveros surgidos naquele Carnaval, no Português. Folião inveterado, Pedrão recorda que dois anos depois da tal proibição imposta por Carlos Costa, as músicas dos times voltaram à cena no mesmo Clube Português do Recife, mas por pouco tempo:- Tocaram o frevo do Náutico, e jogaram um balde de gelo, lá de cima, na orquestra. Na vez do frevo do Sport aconteceu a mesma coisa. Aí o maestro José Menezes desistiu.
Se o baile é num dos três clubes, logicamente só as músicas do dono da festa são tocadas. Aí, torcedor de outro time que por acaso esteja pisando o terreno alheio, respeita. Do contrário, já se sabe o que acontece.A exemplo do Português, o Cabanga Iate Clube e o centenário Clube Internacional do Recife não são de futebol e reúnem gente de todas as tendências. Nos dias atuais já não existe aquele clima beligerante de 1975, quando os ânimos viviam acirrados e os torcedores se exaltavam facilmente. Mas há muita cautela e evita-se entrar na guerra musical futebolística. A música de um é automaticamente vaiada ou mesmo deturpada pelos torcedores adversários. E às vezes o pau come solto. Dessa maneira, o mais prudente é alijá-las do repertório.Tornaram-se famosos os encontros na segunda-feira de carnaval entre os maracatus Timbu Coroado e Leão Coroado, reunindo remadores e torcedores do Náutico e do Sport, respectivamente. O mais das vezes ficava tudo nas chacotas, indo ao máximo a insultos mais ásperos.BURUÇU EM CIMA DA PONTENuma certa ocasião, entretanto, a coisa esquentou. Foi em 1969. O Náutico havia sido hexacampeão pernambucano no ano anterior, decidindo com o Sport e conquistando um título que ainda hoje é festejado em verso, prosa, música e lorota por sua torcida, título que foi perseguido infrutiferamente duas vezes por Santa Cruz (1974) e Sport (2001). Todavia, ambos tiveram que se contentar com o pentacampeonato.
Naquele Carnaval, a turma do Timbu Coroado aproveitou uma charge publicada pelo extinto Diário da Noite, na qual aparecia um leão miando, e levou-a pelas ruas da cidade, como estandarte. Os dois maracatus encontraram-se em plena ponte Duarte Coelho, no centro da cidade, quando alguém do Leão Coroado achou de rasgar a charge. Houve um tremendo buruçu, com gente se engalfinhando e gente correndo para sair da confusão.Timbu Coroado, além de ser o nome do bloco alvirrubro, é um frevo-canção que passou a ter o significado de hino oficial para os torcedores do Náutico. Foi composto entre os anos 1938 e 1940 por um trio de remadores alvirrubros, com o propósito não apenas de enaltecer o Náutico, mas também de mexer com os rubro-negros.O pianista Edvaldo Pessoa, um dos três autores da música, disse-me certa vez:- Compus o Timbu Coroado com Jair Barroso e Samuel (também conhecido como Turco), um carioca que vivia aqui e que remava com a gente. Fizemos a música a toque de caixa, na nossa garagem, que ficava junto de onde é hoje o cinema São Luís. Era de lá que o Timbu Coroado saía. O pessoal decorou logo e saiu cantando. Foi um sucesso. Falamos em acordar cedinho porque remador treina de madrugada.
A letra traz alguma ironia com o casá, casá, grito de guerra da torcida rubro-negra, Vejamos:
O nosso bloco é mesmo infezado (sic)
É o timbu, é o Timbu Coroado
Desde cedinho já está acordado
É o timbu, é o Timbu Coroado
Entre no passo, que esse passo é de amargar
Essa turma é mesmo boa e no frevo quer entrar
Não queira bancar o tatuEu conheço seu jeito, você é timbuEsse negócio de casá, casá, casáÉ conversa pra malucoNinguém quer se amarrarTimbu sabe isso de corCasar pode ser bomNão casar é melhor". Pelo Jornalista Lenivaldo Aragão.
Bom... agora vou lá para a rua. Feliz carnaval para todos! Briquem em paz e usem camisinha!

Um comentário:

Brasileirão disse...

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