Infelizmente, no futebol as mulheres ainda são vistas apenas como heroínas. Das meninas com pouca idade às jogadoras adultas, o sexo feminino continua driblando dois adversários a mais nas quatro linhas. Superar a mitificação preconceituosa e a falta de incentivo financeiro é, realmente, atitude de heroína, para cidadãs que nasceram na "Terra do futebol".
Apesar de algumas conquistas nos últimos anos, o futebol ainda é um espaço machista. Por efeito das implicações históricas e culturais, o futebol feminino no Brasil ainda é semi-amador. Algumas das poucas mulheres que hoje integram o universo futebolístico do país ainda trazem resquícios de atitudes excludentes. Patrícia Amorim, atual presidenta do Flamengo, durante campanha eleitoral, comparou a "habilidade" feminina de gestão do lar com a de um clube de futebol.
Se em alguns gestos a diferença, às vezes, passa despercebida, em números, podemos ter idéia do abismo. Mantendo a boa fase em campo, Marta - a melhor jogadora do mundo -, aguarda algum clube estadunidense disposto a pagar o salário de US$ 500 mil por ano. Em má fase, Robinho - que nunca figurou como finalista a melhor do mundo - está deixando o futebol inglês e aceitando considerável redução salarial no futebol brasileiro. O Santos arrumou todas as estratégias para pagar mais de R$ 1 milhão por mês. Ou seja, ainda nestas condições, Robinho, por mês, ganhará o equivalente a uma temporada inteira de Marta.
Apesar da brutal diferença de salário, voltemos à realidade dos nosso bolsos - o da maioria do país. A comparação serve apenas para percebermos a diferença no reconhecimento ao final do processo de ser jogador ou jogadora de futebol.
Em época de tantas discussões sobre direitos humanos, anistia e arquivos da época da ditadura, podemos especular a causa de tanta antipatia de uma geração de mulheres ao futebol. Em 1964, o Conselho Nacional de Desportos proibiu a prática do futebol para mulheres. Alegando incompatibilidade física, o decreto devia mesmo seguir convicções políticas.
Mais que louvar a trajetória, por exemplo, de jogadoras como Marta, precisamos discutir mais o valor da mulher no esporte bretão. Apenas reservar diálogos rasos no dia 8 de março mantém a injusta desigualdade entre homens e mulheres no futebol nacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário